terça-feira, 21 de março de 2017

Árvore




Árvore,
Quem te levou a seiva,
Quem sabe o sabor dela?
Arvore de tronco nu.
Fiquei sem folhas… escrevo a cru.

Há tanto tempo que não sinto o cheiro das flores,
Há quanto tempo não sei o sabor do perfume,
Nem tudo o que de doce tem o meu lume...

Árvore… oxalá não tenhas secado para sempre
Quem te comeu o fruto sem ter madurado a semente?
Poda...
Os ramos que te libertam do solo
E decidiste fazer secar a raízes
Se não podias tocar o céu.
As arvores gritam:
Gritam surdas e em silêncio
Gritam, guincham dores
Rasgadas, a cada uma das tuas tesouradas.
Gostas das minhas costas lascadas,
Deleitas-te com cada uma das machadadas?
Tão vil e triste
Serzinho pequenino abjeto… gostavas de chorar sobre meu seio,
O de uma amada, de uma mãe…
Eu sei e sinto o teu enleio
(e o problema é sentir algo tão viscoso e feio)
Nunca foste tão bonito como as flores,
Não sentiste o cheiro dos amores
tamanho pejo...rastejante, rastejo...
Tu não sabes o que é um jardim?
Tu não sabes para que serve um  jardim?
E ai de mim,
que sou árvore e não te caí nas graças
E tu… queres grandeza, mas ficaste nessa pequenez faças o que faças…
Tu querias ter um busto enorme e com escrito eloquente e o teu nome…
Que fosse do teu tamanho... e numa praça qualquer
(bem visível e central, no elevado pedestal)
Onde não houvesse flor nem mulher
Como és pequenino e mirrado
Atiraste o arvoredo, plantaste um encalcetado
Mijaste no repuxo e secaste o lago…
Ai pobre de mim que só sou árvore
Que só broto em abundância
Amor luz e perseverança.

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