sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Voo obliquo



Iníquo
Um voo obliquo.
Eu sei lá o que é injusto
Eu sei lá o que quero
Justo seria crescer e voar

Tu já me viste voar amor?
Eu sou tão feliz quando voo!
Quando o ar frio entra nos pulmões,
E sinto pura a alma!
Oh meu amor, havias de ver como sou tão feliz
Tu já me viste voar nos céus?

Eu quase perdi essa sensação desde que me tens enjaulada
Primeiro eram grades, grandes... e ao toque me queimavam.
Depois tinha a pata presa e o voo era curto…
eu às vezes agitava as asas e sorria
mas o voo era curto, cada vez que crescia o grilhão puxava
me derrubava, caía, sofria e chorava…

Eu já nem sei se estou presa
Eu sinto aqui os atilhos mas às vezes não tenho certeza…
E cada vez que vou, caio… até onde vai o enleio?!
 Não sei se tropecei ou se o grilhão é menos feio…

Eu já voei.
E tu também podes voar.
Eu respiro e tu podes respirar.

Mas, sabes
eu ainda voo em segredo, ainda que me possam amarrar...

Oh meu amor, se tu me visses a voar!


Lúcia

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Rosa... murcha.



Céus, tão pouco útil me sinto,
Ou tão pouco há que fazer,
Ou que me esteja a apetecer,
Para ter vontade de cantar as rosas secas que me vieste oferecer?

Não é por ti,
É pela Rosa.

Vieste pôr-me rosas murchas à socapa.
Cortesia e acatamento não é contigo, pois não?!
Que verme misero sem educação…
Não, não sou eu a que humilhas e indignificas.
És tu!
E isto, isto é só pela Rosa!
Porque tu: verminoso, vermivoro, falacioso…

(Diz-me: és feliz pensando que tocando me corrompes?)

És infeccioso, putrefacto… assim foi fácil não te querer.

Rosas murchas…  não são para oferecer.
Rosas murchas e à sorrelfa… credo, onde me fui meter!
Tens ao menos consciência? Reflexão remorso fazem-nos crescer
Pobre-alma-pobre… podre
Rosa, murchas, isso é la coisa para se oferecer?
Não é por ti é pela Rosa...
Merece melhor flor e outro acrotério devia ter.

Lúcia

Hoje sonhei com neve



Estou feliz.
Estou bem e sonhei com neve:
Flocos grandes e ar tépido
aquela neve que precede a Primavera.

Eu ainda não sabia que a felicidade era assim.

Somos enantiomorfos
Sim, às vezes sinto que sim.
E as palavras não saem com a emoção e com a intensidade
Do costume
Porque é tudo ordinário, ordinariamente vulgar e bom:
Estou feliz,
E não há absolutamente nada para manifestar.
É tempo de paz.
É tempo de acalmar.

Sorrio.
Sorrimos.
E eu vejo-te sorrir dentro de mim.
É uma coisa invulgar em mim,
Sorrio quase sempre.
Não preciso ter-te em mente,
Eu já te vi.
E se o que visse fosse apenas isto, para sempre…
Mesmo que nunca mais visse, nada mais…
Tinha sido bom ter-te encontrado a ti.
Atrás do Larouco há-de vir algo
(vem sempre qualquer coisas de tempestuoso ou céu carregado)
Deixemos de lado o fado.

Por hoje: estou feliz
Não és só apenas um ser amado
Somos enantiomorfos
Não somos iguais.

Como se escreve um sorriso?
Como se pinta um sorrio?
Qual a melodia do nosso sorriso em paz?

Neve.
Porque a neve faz-me feliz.

Lúcia
(este é mesmo para ti, para nós)