quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Vamos caminhando pelas várias paragens



Vamos caminhando pelas várias paragens
E há sítios onde vou andando
E por onde já me perco nas passagens

É doloroso o trepidar
Escangalha-me o chassi e não há forma de recuperar

Tens mãos mas não agarras
E boca de onde não saem palavras
E a vida é um deserto
Um silêncio a céu encoberto
Onde vejo escapar a luz

Onde andas, onde me pus

Porque me seduz esse não sei quê de ausência
Não,
Não é nada disso do que quero.
Um deserto, um enorme e imenso deserto
Onde secam as palavras

Andamos sós por caminhos esquecidos
Vimos olhares enrugados e olhos enegrecidos
Espera-se o fim

Um fim é um principio para uma coisa qualquer
Por isso é tão importante terminar

E eu pergunto porque ainda manter viva a besta
Com ar de decrepitar

Há sítios que nem deviam existir
Foi a vontade do Homem a contrariar
O que deve ser

E o que deve ser é ditado
Pela besta e pelo diabo

Os silvedos irrompem
Os medos corrompem

E nós ficamos aqui envoltos suspensos neste enredo.
Não somos escravos nem se quer brinquedo…
Nas mãos de diabretes que jogam em segredo.

Tens mãos que não agarram e boca seca de palavras
Eu erotizo a alma e infernizo a calma.
Não sou de rédea curta
Nem se quer uma
Galga de luta…
Vou
Indo
E lendo
E vendo
E quiçá agora faça.
“Pinta-me as paredes de poemas” disse-me
com tom mordaz
talvez zombeteiro… quase nada audaz
e eu sei que ele vai ler cada paragrafo numa busca perspicaz…
e eu meu amor,
busco água nas fontes onde não me bebes
fico embrenhada pelos vales e pelos montes…
havia tanto por onde morar e por onde andar…
 fico a pensar no que te dizer 
e depois...
vou-me embora
porque tem que ser.


Lúcia




quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Minha caixinha azul



Minha caixinha azul
Com tons de prata amarelada
Minha caixinha azul onde eu guardo quase nada

Minha caixinha fechada
Mantém-te assim para estares guardada
Minha caixinha azul com todos os segredos do mundo
Para onde nos leva a minha escada

Anda, eu e tu
Minha caixinha azul
Com áurea azulada
Se estivesse dentro de ti … minha dor ocultada

Minha caixinha azul pode tudo ou quase nada

E tu achas que entraste na minha caixinha azulada
E ela ainda está tão encadeada
 Não tocaste nada de mim
Aqui dentro onde estou guardada

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Passas pela vida em estado vegetativo



Ó meu amor o teu alpendre parece não dar flor
Pensaste que isto era uma estufa
os tapetes e os brocados retirados
E temos culturas  hidropónicas e frutados

Em vez de olhos agora tens nabos
E passas a vida em estado vegetativo
É tudo tão estupidamente aborrecido
E quase voltas à lactância da primeira rima

Fazer rimar as cores
Com os amores.
Contorceste na cadeira com dores.
E o que te dói a garganta!
Dizes que é falta de calor, tens frio... mais uma manta...
Deixa-te sair de uma vez desse torpor, já ninguém aguenta.

Nem sempre o jardim é horto,
Nem sempre o cisne é porco.

Deixa que te levem de mim,
Deixa-te respirar porque sim.

E entra em mim agora,
Como se te apossasses do que em mim há mais... de quente...
Em mim... sente.

Sente de novo no meu ventre,
A palavra verbo,
Que é o teu paraíso, ou nosso inferno.

E quem?
Quem? Tu!
A ti beijo com cada palavra
Um beijo eterno
Infinito que perdura nos sonhos e na vida
Toda a força que eu já senti no vento
E o vento chama-me e desperta-me
Arranca-me do musgo que me convida a hibernar
E eu convido-te a amar.

É tão bom sentir-te perto
Meu anjo quase anjo, incompleto.