terça-feira, 26 de junho de 2018

Sabes há quantas noites não me dispo?



Eu esta noite dispo-me
Sabes há quantas noites não me dispo?

Está seca a seara...
Mas ainda não é a ceifa.

Sinto os sons secos do campo
Os gritos agravam... e os grilos
gravam gravuras
sonoras grotescas
Agradam as ternuras 
Amoras nas cestas

Está seca a noite
E desço até ao rio
houvesse um conselho frio
ouve-se um bongo e rio

afinal
volto envolto em vestes o dia
retraio-me e retiro-me
abrigo-me

e lá fora
seca seara
sem som
verde que aflora

e se eu a beijar?
Haverá água doce a brotar?

Deixa-me beijar
A fraga fria e reluzente
Deixa-me desenfeitiçar
O fado da minha gente.

Lúcia Cunha