sexta-feira, 26 de maio de 2017

Perdão



Sacode e segue
Eu queria sacudir as palavras
As meias coisas as (entre)lameladas…
Ainda te lembras do que dizíamos?
Ainda te lembras das nossas madrugadas
Sempre achei que olhar para trás era errado:
Buraco feito, buraco tapado, assunto arrumado.
Mas, não… há coisas que se enterram e nascem
E há coisas que ficam sempre no sitio que estão
Como aquelas que temos no coração.

E depois há o "perdoar".
Perdoar, diz que é dar.
Eu dei sempre, e dei antes
Mas eu não entendo esse perdão que não doí
Eu não odeio, não sinto raiva… mas sinto dor
Explica-me, como se perdoa?
Diz que perdoar é ficar leve
É dar e ninguém nos deve?
Como se perdoa o carrasco que te bate e te mata todos os dias
Como uma trama em constante repetição?
Eu não guardo rancor… quero-te longe à distância do esquecimento.
Mas tu regressas sempre com o mesmo acometimento…
Não te quero mal, não te procuro… só não apreço o que advém: sofrimento.
Eu não entendo, há outra forma de perdão?
Será que então não é precípuo evitar o que me é pernicioso?
Só me salvo pelo egresso, não é meu esse direito e é forçoso!?

Eu não entendo o que é perdão
Se mais pode ser, senão
Mais que esquecer?

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Verborreia



Estou cansada da tua verborreia.
Estou cansada da sublime sapiência do nada!
Nada faz sentido nesse imiscuir sem Ciência!

Alguma das tuas duas ideias tem algo de original?
Sabes ao menos tomar um banho e retirar de ti o que é ranho e lamaçal?

Estou cansada
Estou cansada de tolerar um e outro e outro
Como quem abre nozes podres
Apetece-me fugir daqui, ir onde os frutos dêem flores,
Onde os convivas e os amores
Tenham autenticidade e sabores.
Estou cansada, 
tão cansada da fatuidade,
da flatulência, da indecência, da vaidade...

Retórica matracada vomitada
não sentes a nada 
não sabes a  nada
és só verborreia
Uma coisa feia, apenas gaboleia.
E eu aqui enfiada noite e dia...


a sofrer gradualmente a minha própria cacotenia...


A Lúcia

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Volvamos



Era tão bom vivermos no sossego
Pastando no prado como o gado
Deitar ociosamente num sítio soalheiro

Deixa-me em paz no meu pranto sossegado
Eu fui ter contigo? Eu procurei-te?
Estou vazia… descarregada de vómito
Bochechei a alma enxaguei a boca e levantei a cabeça
Volvamos, volvamos à labuta
É só mais um dia de vida e apenas um de felicidade
Ai esse pecado da vaidade… o que nos faz tão infelizes
Volvamos. Volvamos volvidos do mesmo sito
De volta ao sítio que ocupamos
Este espaço que ocupo me pertence: meu corpo meu âmago
Tu és uno, inteiro só e resplandecente.
Brilha, Deus fez-te para brilhar.
Brilha, a Mãe pariu-te para incandescente
Brilha, surgiste para ser!
Sê!
Volvamos à mercê do trilho trilhado
Do mundo traçado povoado… o destino!?
O destino é coisa de decisão,
O destino é coisa tua e do teu coração
O destino ainda não está todo destinado.
Acaso... se o soubesses, que vinhas fazer aqui?
Foste tu que te acanhaste,
foste tu que te agachaste porque era mais seguro esconder
E achas que o carrasco não te mata só por o temer?

Lúcia Cunha