segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Noite



Os tentáculos da noite absorvem-me a alma, entranham-se nas entranhas e dissolvem-me os ossos. Despertei este dia e continua a ser de noite.
Abandonas-me nesta escuridão para onde me arrastas-te. Estou presa nesta gaiola dourada e envidraçada para onde me arrastas-te. Grito, grito, GRITO, GRITO. EMBATO COM TODO O CORPO SOBRE AS VIDRAÇAS… RETIRA-ME DAQUI! REITERA–ME  E RETIRA-ME DESTA GAIOLA DECADENTE! ESTE GRITO VISCERAL QUE SOLTO EMBATE NESTE VIDRO que dizem que o som absorve… e fico muda dentro desta vidraça… e o tempo passa, passa, passa… e nem vivo no meu alpendre nem há jardim nem carapaça…
Aaah! Grito! E tudo quebra de uma vez! e caiem fragmentos de vidro que me cortam… (não espera isto era um laminado...) e a lógica invade o meu coração e a ironia preenche-me o espírito e acalenta-me o corpo  - ou é magia ou é do efeito do café!
Amanhã continua a ser Outono… amanhã continuarei a ser eu, sempre sem dono sem amo e com o limite do céu. Amanhã terei que te dizer basta nem que seja baixinho dentro de mim.
Sou sempre eu independente… nem que se inunde o clube e que sejam náufragos os objectos de amor e os ódios e o horror… flutua tudo sob a fúria do mar é tão insignificante o contentor… e lá se vai é só vidro, ferro, madeira, aço, cimento o que for…  ­e oiço-te dos confins do futuro, em ecos no passado a expulsares-me do teu paraíso.  Mas eu sou ave, ser mutável alma imutável, coerente consistente no bem e na verdade.

Lúcia

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