sábado, 16 de janeiro de 2021

Esse Mundo de faz de conta

 

Esse Mundo de faz de conta

Que criaste para nós

Continuamos soltos e sós

Mas tu criaste um mundo de faz de conta

onde não há tato nem teto

 

já vivo bem sem o tato e daqui a pouco não me interessa o teto

porque vivo sem viver

e sou num lugar qualquer

aquilo que nunca posso ser

leva de mim o que tenho no peito

que vai para além dos meus tristes seios

aquilo que abro para além de mim

e sem receios

 

esse mundo de faz de conta

onde conta o que verdadeiramente conta

a única realidade paralela e de verdade

 

criaste para nós um caminho tão duro

quando decidiste que seriamos

retidão apesar do desconforto

retidão num ermo torto

e volto para ti pequeno ermo

da minha infância

das promessas para toda a minha vida

onde a verdade nos acarinha mutuamente

eu aqui e eu lá atrás

eu aqui e eu lá à frente

nunca nos esquecemos de mim própria.  

 

 

 

Duas pétalas nos abrem flor

Como se as arvores

Fossem fêmeas cheias de amor

Deito-me sobre a terra

E deixo que o sol me tome

De onde te vem a força?

 

Hoje calei os tempos

E dormitei sob a luz no campo do sol

Toma-me nos braços para me despertares

Tamanha é a dor de já não sentir

 

Duas pétalas nos abrem a flor da alma

E nos lambem a fala

Saem-me palavras da vagina

E purga-me do ventre um palavrão: AMOR

 

Repugnam-me nos cabelos

Raciocínios melosos

E nas faces bafejam-me vaticínios merdosos

 

- Ama-me!

- Ama-te.

Amanhã

O gelo cobre campos longos

Onde as montanhas não me abafam o espírito

E oxalá éguas corram um dia

Até às falésias junto ao mar

 

Aqui, onde os campos levam o horizonte até ao mar

Onde as serras estão longe para me apertar

Onde a vista vê até ao infinito

E o sol me percorre até ao fim.

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