quarta-feira, 15 de março de 2023

Buracos negros

Fujo desse horizonte

Todos os dias

Sei que se o tocar a mão foge-me para lá e some-se me a alma

Não me confio ao destino

Nem me submeto à catarse

Ah não meço forças com impossível

Não me aventuro em horizontes celestes

ponto de não-retorno

 

retomo os passos seguros

retomo o folego nos pulmões

e dou passadas secas

nos passos que a vida me deixa

persistente na minha deixa

às vezes é a nossa vez de encaixar

onde há espaço

onde alguém não quer onde alguém deixa

para quem sempre está

e fica onde é preciso

 

e depois…

depois do folego embalo e apanho no voo

a onda da ocasião

reposta a força approfitta a onda do vento

toma para ti a força do momento

 

Não me aproximo de horizontes de evento

Onde se some o espaço-tempo

Não me aproximo onde me leva o pasmo-pânico

Onde paralisa a respiração

Para lá da revelação

 

É bem intrigante a mundana vida

E cada pétala da sua indignação.

 

Ah renego as desculpas

Afasto-me dessa força absorsora

A parábola do limiar, a negação,

A hélice negra do nada celestial.

A Lúcia


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