quinta-feira, 3 de novembro de 2022

gps

 ela enganou-se e escreveu um destino

como se fosse uma gralha 

uma falha na coordenada

um desvio na direcção 


enganou-se no destino

e foi a vida que vagueou

foi dar-lhe ao coração 

andou em circulos

regressou à mesma estação 


o outono dói-me

e ainda não passei pelo inverno 

chora-me a terra seca, a minha alma.

aonde me anda a memória válida?

e aquela força estival?

tão natural que me era o verão.


esses rebentos verdes

as frágeis pastagens de outono

são melancólicas, doentias 

nunca fizeram mal 

mas, não eram o melhor conduto das minhas alegrias.

ai essa imensidão de dor

turpor e melancolias.

estou farta de ti senhor

senhor surdo das minhas noites

a quem digo palavras vãs

ah fazem-me falta as carnes sãs 

e os gritos e as tropelias 

perdi essa coisa-fé 

ah tão sentido o sentido do que se é 

dai-me só whisky, esse de sabor que não sabe

só para deixar de saber

e quando voltar a noite

que vejo sem luz em todos os dias

só precisarei de beber 

ah, já não vou lá com os paleativos 

contos retóricos... papagaios discursivos

perdi-me dessa coisa-fé

esse indicador de direcção 

desliguei há tanto tempo

para me concentrar no caminho 

e agora

só me resta arrancar de novo 

e continuar 

devagarinho.


(Com amor da V/ Lúcia)


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