ela enganou-se e escreveu um destino
como se fosse uma gralha
uma falha na coordenada
um desvio na direcção
enganou-se no destino
e foi a vida que vagueou
foi dar-lhe ao coração
andou em circulos
regressou à mesma estação
o outono dói-me
e ainda não passei pelo inverno
chora-me a terra seca, a minha alma.
aonde me anda a memória válida?
e aquela força estival?
tão natural que me era o verão.
esses rebentos verdes
as frágeis pastagens de outono
são melancólicas, doentias
nunca fizeram mal
mas, não eram o melhor conduto das minhas alegrias.
ai essa imensidão de dor
turpor e melancolias.
estou farta de ti senhor
senhor surdo das minhas noites
a quem digo palavras vãs
ah fazem-me falta as carnes sãs
e os gritos e as tropelias
perdi essa coisa-fé
ah tão sentido o sentido do que se é
dai-me só whisky, esse de sabor que não sabe
só para deixar de saber
e quando voltar a noite
que vejo sem luz em todos os dias
só precisarei de beber
ah, já não vou lá com os paleativos
contos retóricos... papagaios discursivos
perdi-me dessa coisa-fé
esse indicador de direcção
desliguei há tanto tempo
para me concentrar no caminho
e agora
só me resta arrancar de novo
e continuar
devagarinho.
(Com amor da V/ Lúcia)
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