quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Putrefação negra


A vontade maior era dizer: basta!
Vomitar dois pedaços de fel,
Fazer uma enorme evacuação
Da alma, gerar tamanho afito…
Desprender todos os esfíncteres
Que constringem as ideias…
Mas em suma o tempo seria um desperdício
Se em vez de genial se observasse o excrementício

A vontade era entregar de vez o corpo aos prazeres
Da doce morte, deixar que as larvas comessem as entranhas.
Dissolver-me pelos sucos dos saprófitos
Até que todas as partes não fossem ao húmus estranhas.
Que se prolonguem sobre o corpo, o meu corpo, Physarum polycephalum
 Que invada as faces, cubra olhos, lábios
Se prolongue nos dedos como lodo imundo.
 Designo sublime
De um recomeço eminente
Morrer para ser semente.

Lúcia Cunha

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