segunda-feira, 2 de março de 2015

SANTO OFÍCIO



Descansa
Pobre tola rapariga
Descansa dessa eterna fadiga
Descansa da trama da madrugada
Descansa sobre a terra geada
É tão duro este inferno
É tão duro este frio.
Nunca mais termina a noite e a candeia sem pavio.
E é tão duro este sítio para onde me meti
Bastava ter ido com cuidado e saber de ti, e saber ser amada.
Mal Ventura desventurado sina dura
Ser sempre filho e sentir-se enteado.
Mal Ventura desventurado
Sina ruim que me tem calhado
Má ventura, esta vida é
Ancestral esta e desmedida.

Descansa rapariga da trança,
Descansa rapariga da trança.
Dança, dança dança…
Dança lança
Atira fora vai embora nefanda sina
Cara de mulher carência de menina
Descansa pobre infeliz
Sente o que a razão te diz.
Deito-me sobre o nada
Deito-me sobre o pensamento
Rotina, rumina… círculo viciado.
Anjo das minhas preces
Anjo que me mereces
Anjo de luz que me tomas, Jesus.
Serve-me uma penitência
E silência
Esta dor desmedida
Dá-me cheiro a incenso
E círios queimados
Leva-me daqui os amantes desventurados
Limpa-me a casa e a alma
Devolve-me virtude e calma
Devolve-me o que sempre me pertenceu
Devolve-me o que sempre me mereceu
Devolve-me o único que é meu…

Santo oficio rosário
O final trágico do desafortunado
Dá-me essa sentença final
Porque afinal
Sou o meu próprio mal.
Porque afinal não há maior prazer
Que me ver nua despida a arder.
Dá-me por fim a sentença final queima-me de maneira brutal
E intumescem-se de baixo das batinas as coisas pequeninas
Que foi o diabo que lhas deu.
Anda obriga-me ao sacrifício
Santo surdo mudo
Soberbo
Sem ser que te mereceu.

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