Nua na noite escura. Resplandece a luz de dentro e parece
que apaziguou o mau tempo.
Está frio mas a tarde é soalheira. Persegues-me no mato com
passo firme. Qual cavalheiro, soldado, guerreiro. És o meu gladiador, soldado
romano… és o que for…
Nua, esvoaço nobre com minha veste pobre de perdiz. Há urzes
já um pouco fustigadas e tanta outra vegetação na mesma condição. Oiço o teu
crac, crac do pisar forte e determinado. Persegues-me. Não te confundes com a
natureza, diferenciaste com o frio e feio do teu camuflado.
Persegues-me e até quem não soubesse pensaria que vais com
ar desinteressado. Mas eu sei-te determinado, insistente sempre que me vês
forte e feliz e plumagem lustrosa – sou a tua ave pequena perdiz.
Nua, levanto voo rasteiro e um impulso tremendo faz-me subir
com alento até ao cume arborizado. Tu com cabelo de sol doirado e com esse ar
sorridente, és leve no trato tens passo determinado e podias ter porte
afidalgado se fosses só um pouco diferente…. e de repente tens-me na mira.
Olhas-me nos olhos: meus olhos baços confusos e claros com
névoas e castanhos de perdiz, meu olhar cor de cristal deformado contaminado,
quartzo citrino, raio de luz refratado, quartzo fumado… e vês que te vejo na alma e te atinjo com a
tua dor como quem te fere com uma bala.
Eu sou perdiz e tu caçador.
E sentes angústia, repulsa… apetece-te chorar. É a culpa.
Talvez me venhas outra vez caçar.
Vens desde os ecos dos tempos das origens iniciais
perseguindo os sinais… vens uma e outra e outra vez procurar-me e matar-me.
Só Minha ( e dela),
Lúcia
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