Alpendre de Jardim
"Aqui onde os sonhos me confundem e me agarram à vida: sinto-me segura e não me sinto perdida. Este meu alpendre de jardim onde brinco à vida e a vida é real… será certamente um raio de Sol um bom sinal?! (...) Neste alpendre de jardim quero ser a garça, não me faças cair em desgraça… nunca serei coelho ou pato… qualquer falcão que me ataque, mais tarde ou mais cedo eu abato."
terça-feira, 3 de dezembro de 2024
o caminho sem sapatos vermelhos
domingo, 12 de novembro de 2023
Palavra-flor
Ando à procura de um ramo de palavras para te levar
Depois decidi agraciar-te apenas com uma
Seria vermelha
Seria folhosa
Seria de cheiro forte
Ofuscando a dor e a morte
Andei à procura de uma palavra cheia de cor
Uma palavra que te abraçasse e te desse um pouco de calor
Queria uma palavra simples
Uma que tivesse pétalas bonitas
Queria uma palavra-flor
Que desse tudo num ato só
Que fosse tudo o necessário
De uma vez em comoção
Sem juízo, sem comentário
Uma palavra-flor
Na jarra da solidão
E então chorei
Uma palavra
Que não consegui escrever
É uma palavra só
Dentro da lágrima
Por ver.
Caminhos
As coisas que eu NUNCA vou fazer
As coisas que NUNCA vou ter
As coisas que NUNCA vão ser
Onde estão os caminhos que fechaste?
Onde iam ter as estradas que não seguiste?
Que verdes prados regavam tuas águas nos VALES que não
sulcaste?
Onde estão os destinos que recusaste?
Todas as coisas que queres estão feitas para TI.
Todas as coisas que te pertencem estão no caminho que
trilhas.
Todos os passos que deres são os certos em direção ao sítio
onde quiseres ir.
Este é o caminho.
Só ainda não chegaste.
(A ti, MEU AMOR
No dia que me
procurares para me ler
Duvidando no ermo
Ou em alguma
encruzilhada
Não te preocupes
É só seguires a calçada
Toda gente sabe que há
sempre um caminho
Lajes Douradas
No meio das tempestades
O caminho certo é
aquele que decidires seguir.)
Falta e Pouco
Falta.
Tão pouco.
E o relógio é um louco
Obsessivo em fazer passar o tempo´
Falta pouco
Depressa
Não sei se respire ou morra
O tempo é louco
Obsessivo
Não consegue parar
E, por muito que eu corra nunca me adianto
Não o consigo acompanhar
Tão pouco
Tão nada
E na pressa nada feito nada é.
Por mais que organize
Por muito que corra
Ainda que priorize…
(Não sei se respire ou morra.)
Não chega, já passou.
O tempo
Obsessivo e louco.
Todo o tempo é ainda muito pouco.
E se parar de respirar para correr
Poupo tempo
E mais depressa
Chego
A morrer.
A Lúcia
sábado, 29 de abril de 2023
Onde tens estado?
Quando as palavras já não servem
Encosto-me ao teu ombro
(Onde tens estado?)
Quando as noites são deserto
E as palavras secam
Apareces tu onde quero ficar perto
(Onde tens Estado?)
Quando decido ter o que quero
Eis que tenho, me parece
Não sei bem e o que acontece
(Onde tens estado?)
És só sítio
Bonito
Onde hoje quero estar
… onde é que eu tenho ido?
Onde é que eu tenho estado?
Há para além destes palcos, tanta vida para atuar.
Há para além destes dias outros tantos onde desenhar.
quarta-feira, 15 de março de 2023
Buracos negros
Fujo desse horizonte
Todos os dias
Sei que se o tocar a mão foge-me para lá e some-se me a alma
Não me confio ao destino
Nem me submeto à catarse
Ah não meço forças com impossível
Não me aventuro em horizontes celestes
ponto de não-retorno
retomo os passos seguros
retomo o folego nos pulmões
e dou passadas secas
nos passos que a vida me deixa
persistente na minha deixa
às vezes é a nossa vez de encaixar
onde há espaço
onde alguém não quer onde alguém deixa
para quem sempre está
e fica onde é preciso
e depois…
depois do folego embalo e apanho no voo
a onda da ocasião
reposta a força approfitta a onda do vento
toma para ti a força do momento
Não me aproximo de horizontes de evento
Onde se some o espaço-tempo
Não me aproximo onde me leva o pasmo-pânico
Onde paralisa a respiração
Para lá da revelação
É bem intrigante a mundana vida
E cada pétala da sua indignação.
Ah renego as desculpas
Afasto-me dessa força absorsora
A parábola do limiar, a negação,
A hélice negra do nada celestial.
A Lúcia
quinta-feira, 10 de novembro de 2022
o lugar comum
a noite sentou-se numa cadeira
e a lua ficou indignada.
sentas-te, adormeceste no sonho do sono
e concluíste que nada é do que foi.
todos os lugares vazios
e tu estás apenas num:
o lugar comum
sentaste-te na noite
à procura não sabias bem do quê
a solidão não adormece
e tudo o que vês deu-te vazio
"havias de ler um livro!"
talvez te desse fome
"e agora homem?"
ainda há forma de resolver esse problema aí do lado
estás sempre a tempo
enquanto houver tempo
e havia tanto lugar vazio
e havias de te sentar apenas num:
o lugar comum
e eu vejo-te agora porta a dentro
entro em ti e incomodo
sentes que te arranho
molesta como rododendro
mas não arranho nem sou funesta
acalento
de fora e adentro
como num mar que embarcas
onde não te perdes e te abraça
adormece
adormece a dor de que toda a multidão padece
ensurdece
e ouve só o coração
funciona
não foi preciso esforço
foi só doce elaborado esboço
improviso nascer
E, é só noite uma vez, antes do amanhecer.
A Lúcia