Ah o que me abisma e me abruma
É pensar-me tocada pelo teu corpo
E por todo o vazio do teu pensamento
Esse acéfalo, ausente raciocínio proveniente
De qualquer neurónio morto
abentesma jacente
que em vez de face é só escroto
ah mas o que me abisma e me abruma
são os salamaleques, os berloques e os berliques
que tecem e teces… imenso oco intenso
um cheio de nada espremida espuma
folha de sumaúma
o que me abruma, abantesma
e ver-me a mim mesma
envencilhada num parecer
que mais parece um empecilho
que não deixa nascer nem ser isto nem aquilo
Lúcia Cunha