terça-feira, 22 de junho de 2021

é tudo =

 

Enquanto ao longe vejo fardos empilhados

Como se a natureza se encarregasse de pixelizar a paisagem

Há ovelhas plantadas no restolho

Como rochas arredondadas à semelhança das nuvens no céu

 

O mundo parou (decidi eu)

Neste momento em que fixo o tempo por dentro

 

é tudo igual em versões diferentes do mesmo bem e do mesmo mal

 

Ainda não está tudo visto

Até que tu te digas para ir

e então me preparo e me visto

pronta para continuar

o motor do carro fala e lá fora tudo tem o seu lugar

mas o mundo parou (decidi eu)

 

o mundo para até eu decidi que volto

não há outro poder que queira

se não o da autodeterminação

 

é tudo igual em versões diferentes do mesmo bem do mal e das gentes

e do que é mundano e do que é humano

tem cheiro doce a paz e a guerra

é tudo igual é tudo a mesma Terra

 

só se pode andar se não se for árvore

 

e somos arvores que voam

metamorfose constante

é tudo igual em versões e tamanhos semelhantes

são as gentes, são os montes e os amantes

 

e cada solidão única

é tão vulgar em qualquer um

potencial proto artista na sua dor

na alegria e na cor.


a Lúcia

se é, REVOLUÇÃO É nome para ser

 

Há uma dor

Um desconforto

Uma desobediência física geral

Ou um corpo à espera de uma vontade

Uma vontade maior

Uma vontade de vontade verdadeira

Uma vontade com um motivo que tenha razão

Não um “pode ser que”

Mas uma certeza absoluta de qua a ação vai ter um resultado concreto

Estou farta de bracejar e nada

Estou farta de ser tudo e invisível

Eu quero um fim e uma meta

Uma meta concreta de nos levar a um pódio merecido

Já não me basta andar de jogo em jogo vencido

Eu agora só quero a taça

Faça o que faça

Já não à farsa, nada é de graça

 

Eu agora quero o pão

Que manja a boca e a razão

Eu agora quero o auge e a satisfação

Acabaram-se os fretes e as palavras ao vento

Prontas a serem papadas nos cataventos

 

Eu agora… doí-me a barriga e tenho fome

Já não há ação por ação

É revolução e tem nome

Não me importa a cotação

Na a exequibilidade da substituição

Eu agora tenho fome

Preciso de água e pão

Que me manja a boca e me pede a razão

Já não há borlas das ditas

Se em mim ficam a mim dão prazer

Não há folhas soltas

Nem amoras voluptuosas para ler

Assim, só por que sim e pode ser.

Eu, agora, tenho fome

De boas palavras para ler

Já não há ação por ação

Se é, revolução

É o nome para ser.

 

 A Lúcia

produto inacabado

 

Foi-se ao longe uma vontade que já esteve dentro de mim

E de todas as pulsões falta-me aquela que preciso para o fim

E não é que me falte a vontade ou o querer

Mas faltam-me as forças para o fazer

Tolhem-se-me os membros sem mal aparente

Para onde se foi tudo de repente

 

É um desencanto profundo

Sôfrego sentir do medo abafado noutro mundo

Como se o medo fosse pecado

Quando não é mais que um pragmático aviso

Do valor do juízo

De longo caminhar resultado

Consequência, resultado

 

Ah! já não basta caminhar sobre aviso

Como ainda ter de camuflar

O que não é se não produto natural da situação

 

E se um dia me deixasse cair?

Até voltar de novo a primavera ou o verão…

E deixar-me rebentar naturalmente depois de um repouso no chão?

A quem importa uma paragem hoje ou depois então?

 

Só me afaga o consolo da minha completa solidão.