Os tentáculos da noite
absorvem-me a alma, entranham-se nas entranhas e dissolvem-me os ossos.
Despertei este dia e continua a ser de noite.
Abandonas-me nesta escuridão para
onde me arrastas-te. Estou presa nesta gaiola dourada e envidraçada para onde
me arrastas-te. Grito, grito, GRITO, GRITO. EMBATO COM TODO O CORPO SOBRE AS
VIDRAÇAS… RETIRA-ME DAQUI! REITERA–ME E
RETIRA-ME DESTA GAIOLA DECADENTE! ESTE GRITO VISCERAL QUE SOLTO EMBATE NESTE
VIDRO que dizem que o som absorve… e fico muda dentro desta vidraça… e o tempo
passa, passa, passa… e nem vivo no meu alpendre nem há jardim nem carapaça…
Aaah! Grito! E tudo quebra de uma
vez! e caiem fragmentos de vidro que me cortam… (não espera isto era um
laminado...) e a lógica invade o meu coração e a ironia preenche-me o espírito
e acalenta-me o corpo - ou é magia ou é
do efeito do café!
Amanhã continua a ser Outono…
amanhã continuarei a ser eu, sempre sem dono sem amo e com o limite do céu.
Amanhã terei que te dizer basta nem que seja baixinho dentro de mim.
Sou sempre eu independente… nem
que se inunde o clube e que sejam náufragos os objectos de amor e os ódios e o
horror… flutua tudo sob a fúria do mar é tão insignificante o contentor… e lá
se vai é só vidro, ferro, madeira, aço, cimento o que for… e oiço-te dos confins do futuro, em ecos no
passado a expulsares-me do teu paraíso.
Mas eu sou ave, ser mutável alma imutável, coerente consistente no bem e
na verdade.
Lúcia
Sem comentários:
Enviar um comentário