Gosto do
silêncio do inverno. Gosto do frio da neblina que oculta o nosso entorno. Gosto
deste momento de privacidade que me envolve e me afasta tão próxima da cidade.
Oxalá invernasse
o Homem. Oxalá dormissem os Monstros e as criaturas do Bosque. Oxalá a árvore approfittasse para crescer.
E… Oxalá meu amor tu aproveitasses para me ver…
Gosto do
silêncio das geadas, gosto do sereno sossego das madrugadas… gosto do frio que paralisa,
visto lá fora…
Gosto, acima de
tudo de PAZ. Retiro-me.
Retiro e
reitero.
Reitero com
firmeza o que é justo, o que é inalienável, o que é de facto em prol do bem e
não suscita dúvidas de forma alguma
Sim, há na
realidade questões inconfundivelmente certas, verdades inalteráveis por séculos
e séculos… mas às vezes ficamos confundidos, mas às vezes a realidade
confunde-nos…às vezes parece que o certo até parece errado visto que há tantos
do lado errado que sozinhos a lutar pelo certo até parece que nos enganamos de
lado… e fica-se um pouco baralhado…
E, nessa altura
era bom ter, sei lá, o profeta, o mestre, o pai a mãe… Deus. É que às vezes
fazem-nos pensar que estamos obstinados… é que às vezes sentimos que há uma “caça
às bruxas” e depois, em simultâneo rotulam-nos de paranóicos. É uma linha muito
ténue a que demarca o herói do mal-amado. Jesus foi recebido com palmas e
palmas a um sábado. Passados nem oito dias aclamava-se a sua morte. Joana foi
tantas vezes aclamada como um símbolo, aplaudida, transformada em algo com um
poder acima do natural. Mas não tardou o povo achar que tanto poder só podia
ser coisa do mal e do demónio, logo foi demandada a sua morte na fogueira.
Por outro lado
há os que foram obstinados e lutaram no deserto por causa de causas… e, também, ora foram amados ora foram odiados.
Conseguiram. Mas, não sem se livraram em algum momento da fama de obstinados,
teimosos e até pretensiosos.
Cansa. E às
vezes morre-se.
Cansa. E às
vezes duvida-se.
Cansa. E às
vezes parece que fugimos do fundamental, e às vezes parece que nos isolamos do
mundo pelo qual queremos batalhar… e às vezes parece que é tudo ridículo, que
somos ridículos e tudo está bem… é como daquela vez que atravessei a rua para
ajudar o invisual a atravessar a estrada porque o via a ir contra todos os postes…
o senhor quase me deu uma bengalada, e disse “Ó menina deixe-me! Eu só quero
atravessar no quarto semáforo! E ainda falta um!”
Às vezes… gosto
do silêncio do frio.
Lúcia
da Cunha
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